A Covid 19 atacou meu coração

11/12/20
Por: Glaucilene Porciúncula
glaucileneporciuncula@gmail.com

Foram 14 dias afastada do trabalho, em quarentena, e 9 dias passando mal. Falam, por aí, nos mais diversos sintomas e, por experiência própria, relato que é um sorteio: cada pessoa sente um, ou outro, ou todos os males de que a doença é capaz. É pra se assustar mesmo. No meu caso, tudo começou com uma sensação de fincada no ouvido e, no dia seguinte, sentia dor nas costas como se fosse me gripar, com fraqueza e estado febril. Depois disso, foram dias de dores no corpo como se tivesse a sensibilidade da pele aumentada. Desconforto e abatimento. Nos últimos dias, em que já pressentia uma melhora, foi que tive coriza.

O teste para Covid 19, aquele do cotonete que muitos reclamam, fiz no segundo dia. Depois de uma espera de quatro horas num pronto atendimento da vida, uma médica me receitou uns remédios e me encaminhou para o teste. Como já estava com muita sensibilidade, senti a dor do teste com mais intensidade do que é comum. Veja bem, a dor é totalmente suportável, quase nem é dolorido para alguns. Em outra ocasião, fiz o teste e foi bem tranquilo. Só que dessa vez, especificamente, nessa vez em que positivei, doeu um pouco mais do que o habitual e tenho certeza que não foi culpa da enfermeira, que foi super gentil comigo. A culpa foi do vírus. E dessa sensibilidade que me pegou em cheio.

Mas de todos os sintomas, o que mais me machucou foi a reação de algumas pessoas. Sem indireta. Sendo bem objetiva: entrei em um lugar que frequento com certa assiduidade, devido ao meu trabalho, e fui recebida com um grito “Se tiver positiva, nem entra”. Foi um choque. Fui pega desprevenida. Porque o grito veio de uma pessoa que tinha por amiga, com quem conversava sobre a vida, os projetos, as crianças... e, de repente, ela só via o vírus, eu já não era uma pessoa com vida, com projetos, com sentimentos... A gente ouve falar nas pessoas que são vistas e tratadas como coisas, lamenta, mas não temos ideia de como é passar por isso até que isso aconteça com a gente. Para quem não sabe, é um forte sentimento de injustiça que surge duma vergonha que nos é imposta.

Acredito que não seja a única a ter pego a doença de que todos falam e, por essa razão, achei pertinente falar sobre o assunto. Mas também precisamos falar desses “sintomas” que devem ser vistos como anormais entre nós, seres humanos. Ainda somos os mesmos - pessoas que lutam pelo seu espaço, que sonham, que amam, que sofrem, que adoecem e que morrem. Precisamos lembrar que dentro de cada número dessa triste estatística tem uma pessoa, que pode, dentre tantos sintomas diferentes e desconhecidos, estar sofrendo com a sensibilidade intensificada justo ali, no coração.

Foto: Pixabauy