A grande descoberta de todos os tempos

30/09/20
Por: Glaucilene Porciúncula
glaucileneporciuncula@gmail.com

Serendipidade é um termo antigo, foi cunhado pelo inglês Sir. Horace Walpole, em 1754, e quer dizer “ato ou capacidade de descobrir coisas boas por mero acaso”. Muitas descobertas científicas importantes aconteceram assim, por mero acaso. Como é o caso da penicilina e do raio X, por exemplo. Agora, a grande descoberta da década, ou talvez do século, está sendo feita, não só por físicos ou biólogos exclusivamente, mas por todos nós e por cada um. Refiro-me a um universo, até então pouco percebido por nós, nossas relações sociais.

Graças ao isolamento social infligido a toda a população do planeta, fomos forçados a ficarmos mais tempo em casa e o convívio familiar foi intensificado. Mesmo aqueles que precisaram seguir saindo de casa para trabalhar, já não têm a liberdade de sair nos horários de folga. E aquela correria absorvida como normal em nosso dia-a-dia foi sendo substituído por uma pausa repentina e foi nos obrigando a rever nossos posicionamentos perante nós mesmos e ao outro.

Não é à toa que o número de pessoas com problemas de depressão está aumentando nesse período de isolamento. Tanto que segundo o psiquiatra Jairo Navarro, em entrevista a um jornal de Santos – SP, afirma que “a depressão será a nova pandemia”. Isso pode ser visto como uma das consequências dessa “viagem interior” não planejada, embora a grande maioria das pessoas a esteja enfrentando.

Claro que essa não é uma boa descoberta. A boa descoberta, aquela que será grandiosa e incrivelmente surpreendente, é a descoberta de nós mesmos enquanto protagonistas de nossas vidas e de nossas relações sociais. Nada mais de agirmos conforme marionetes, sem pensar, sem dar significado para nossas escolhas com a desculpa da falta de tempo. Quem disse que o número de “amizades” e “seguidores” nas redes sociais são mais importantes do que as pessoas que convivem conosco? Por que dedicar tanto tempo com postagens e curtidas e tão pouco tempo ouvindo nossos pais, nossos companheiros ou nossos filhos?

Fomos forçados a perceber que todos, a nossa volta, estão carentes de nossa atenção e que nós também carecemos de nos cuidar. Olhar para dentro de nós é imperativo tanto quanto darmos mais atenção a estas pessoas que dizermos ser tudo para nós. Ao participarmos, cada vez mais, da vida das pessoas que amamos e de repensarmos a nossa própria vida, estaremos fazendo a grande serendipidade de nossas vidas e, talvez, a mais importante da história.

 Foto: Pixabay