Carta aberta sobre a Agricultura e Pecuária Familiar

21/07/21
Por: Redação T&C
evertonneves25@yahoo.com.br

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAGRS) vem por esta carta aberta trazer à tona o debate sobre a importância e a valorização da agricultura e da pecuária familiar.

Na semana em que estamos comemorando a Semana da Agricultura Familiar, entendemos ser necessária uma reflexão sobre a atual situação da categoria, que é responsável por grande parcela do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e por alimentar a população, seja ela do campo ou da cidade.

Os dados do Censo Agropecuário de 2017 demonstram a força e o potencial produtivo que a agricultura e a pecuária gaúcha possuem. São mais de 700 mil pessoas ocupadas na atividade e que estão distribuídas em mais de 293 mil estabelecimentos agropecuários no Rio Grande do Sul. No que se refere a alimentação, os produtos oriundos das famílias produtoras rurais são a base fundamental da cesta básica. Por exemplo, cerca de 83% do leite consumido tem como origem as propriedades familiares. Na carne de frango, 60%. Nos tomates, cerca de 64%. Na banana, quase 93%. Estes são apenas alguns exemplos, mas poderíamos citar muitos outros.

Entretanto, nos últimos meses, nossos agricultores e pecuaristas familiares enfrentaram uma série de adversidades que tornaram ainda mais complexa a atividade primária. Por dois anos consecutivos, o Rio Grande do Sul foi castigado por severas estiagens que provocaram muitos prejuízos nas lavouras de várias regiões do Estado em culturas que são consideradas fundamentais, dentre elas o milho, grão que é base para a ração animal e muito importante para a alimentação humana.

Para agravar ainda mais a situação, no mesmo período, veio a pandemia do coronavírus, que levou ao cancelamento de feiras e eventos, espaços que são grande vitrine para a realização de bons negócios. Ainda, o fechamento do comércio e as demais restrições que foram impostas, ampliaram as dificuldades.

Como se os fatores já citados não fossem suficientes, as constantes elevações de preços em diversos itens básicos para a cadeia produtiva fizeram com que o custo de produção saltasse de forma assustadora. Importante salientar que, em muitos casos, o produtor não consegue repassar os aumentos e acaba tendo a sua rentabilidade diminuída. Ainda sobre as elevações no custo de produção, é importante frisar que algumas cadeias estão se tornando quase inviáveis, como o leite, por exemplo.

Apesar das dificuldades anteriormente citadas, nossos(as) agricultores(as) familiares não desistem e seguem produzindo os alimentos tão necessários para a manutenção da vida em nosso planeta. Vale aqui lembrar que estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam para significativo aumento populacional nos próximos anos o que, consequentemente, fará com que a demanda por alimentos seja a cada dia maior.

Sendo assim, se faz necessário questionar: o que está sendo feito para proporcionar aos agricultores e pecuaristas familiares as condições necessárias para que a produção de alimentos seja ampliada e supra o aumento na demanda?

A agricultura e a pecuária familiar precisam de melhores estruturas de estradas, de energia elétrica e de internet no campo, fatores que atualmente acabam fazendo com que os jovens deixem suas propriedades, além de elevar custos e frear a produção.

Também, é necessário trabalhar em políticas públicas que alinhem custos de produção e preço do produto, pois isso garante renda ao produtor. O poder público, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, devem unir forças para dar as condições necessárias para que a produção de alimentos prossiga e prospere. Hoje, sentimos falta de um planejamento a longo prazo para a agricultura e a pecuária, no Estado e no Brasil, e de políticas agrícolas duradouras e não apenas Plano Safra, que ajuda, mas não traz garantias de rentabilidade nem proporciona assistência técnica adequada que auxilie no momento de fazer investimentos na sua propriedade.

Na forma como estamos atualmente, algumas cadeias estão se tornando praticamente inviáveis, dentre elas, a de frangos, a de suínos e a de leite.

Os agricultores e pecuaristas familiares têm consciência do importante papel que exercem na sociedade. Eles querem produzir, gerar riquezas, impostos, empregos no campo e na cidade, mas também querem ter lucratividade, pois dependem da atividade para sustentar suas famílias.

É preciso que se diga: todos, de uma forma ou de outra, seja para alimentação ou para obtenção de renda, dependem da agricultura e da pecuária.

Sejamos todos parceiros da agricultura e da pecuária familiar. O Rio Grande do Sul, o Brasil e o mundo só têm a ganhar.

 

Fonte: FETAG