Em números a democracia se apequenou em Pelotas

06/12/20
Por: Robson Becker Loeck
robson.loeck@gmail.com

As eleições terminaram e a vida parece ir “voltando ao normal” para boa parte das pessoas que de alguma forma se envolveram com elas. Para umas parece que nem ocorreram, pois por estarem “preocupadas” com a sobrevivência diária ou estarem indignadas, não foram votar.

De modo geral, politicamente a reeleição de Paula Mascarenhas (PSDB) apresentou duas novidades: a ocorrência do segundo turno (Paula venceu no primeiro turno em 2016) e, nele, a volta da presença do PT, com o candidato Ivan Duarte.  Para quem não lembra ou ainda não era eleitor, desde 1996 o PT disputava o segundo turno da eleição; e, de lá pra cá, o disputaram também o PDT e o PPS (uma vez) e o PPB/PP e o PSDB (duas vezes).

Não podemos esquecer dos efeitos da pandemia, que aflige a todos nós no momento, pois modificou os prazos eleitorais e afetou as formas usuais de “fazer” campanha eleitoral, levando os partidos políticos e os seus candidatos a uma “adaptação forçada” e a adotar novos meios de se comunicarem e se relacionarem com os eleitores.

Mas, deixemos de lado as estratégias eleitorais e o desempenho dos candidatos e vamos aos números. Em 2020, 240.948 eleitores estavam aptos a votar, mas somente 176.916 foram às urnas no primeiro turno, ou seja, 64.032 deixaram de votar. Outros expressivos 18.901 eleitores votaram nulo/branco na eleição para prefeito, demostrando assim a sua inconformidade com a política e/ou com as opções apresentadas pelos partidos políticos.

No segundo turno da eleição a situação não mudou muito. O número de votos nulo/branco foi um pouco menor (17.015), contudo, o número de eleitores que não foram votar aumentou ainda mais, chegando a 70.786. Somados os que se abstiveram e os que optaram por não votar em nenhum dos concorrentes, chegamos ao significativo total de 87.801 eleitores, ou seja, 36% não votou em um candidato/partido.

Ao agirem assim, deixaram nas mãos de 64% dos eleitores a escolha dos rumos para Pelotas nos próximos quatro anos. Ivan (PT) recebeu 47.941 votos e Paula (PSDB) o venceu legitimamente no pleito com 105.206 votos, entretanto, acabou não obtendo a legitimidade da maioria, visto que a sua votação corresponde a 44% dos eleitores aptos em Pelotas. 

Há quem considere que menos e qualificada participação fortalece a democracia. Já eu, como acredito pertencer a esfera da subjetividade considerar quem é ou não qualificado, entendo justamente o contrário, que os processos eleitorais acabam mais fortalecidos com maior participação.

É bem provável que a pandemia foi determinante para a abstenção ter praticamente triplicado nas eleições de 2020 em comparação às eleições de 2016. Que ela passe logo e que daqui há dois anos, já nas próximas eleições, possamos ter mais cidadãos colocando em prática o fundamento básico da democracia representativa, qual seja, o ato de votar livremente. Para que isso ocorra, sentimentos negativos em relação a política não podem ser aflorados, e, nesse sentido, cabe frisar o papel que desempenharão a prefeita eleita e os candidatos derrotados no âmbito municipal, como também, todos os demais que ocupam cargos políticos. A responsabilidade pelo apequenamento da democracia não pode recair somente nos ombros do eleitor; políticos e os partidos não podem se ausentar das suas responsabilidades, não podem gerar desilusão e afastar ainda mais os eleitores das urnas.

Robson Becker Loeck é graduado e mestre em ciências sociais, especialista em política.