Participação, eleições e a democracia

21/10/20
Por: Robson Becker Loeck
robson.loeck@gmail.com

Não é nenhuma novidade dizer que os brasileiros reclamam da política. Ela é xingada de várias formas, e a percepção geral é a de que não há políticos que prestem e motivos pra isso não faltam.

A visão da política como uma coisa “suja” e que corrompe “as pessoas de bem” prevalece e é geradora de um ciclo vicioso, pois como os virtuosos não querem se contaminar, não participam e deixam o espaço aberto para os “maus” cuidarem do que é público. A notícia ruim é que sem a participação dos “bons” na política ela jamais será qualificada. 

Não há saída para o rompimento do ciclo sem participação. Participação essa que na atualidade da democracia representativa, grosso modo, fica limitada ao ato de votar e de buscar exercer pressão sobre os governantes eleitos via manifestações públicas, que geralmente antecedem votações que alterarão significativamente uma ou mais questões relativas ao funcionamento do Estado. 

Mesmo agora, no período eleitoral, a participação acaba por ser limitada, pois as coisas começam a esquentar mesmo é na reta final de campanha, quando de fato os eleitores, sabedores que é inevitável ir às urnas, começam a buscar mais informações sobre o pleito e a aumentar a audiência dos programas dos partidos políticos na TV ou no rádio. Fica claro, então, que é difícil falar em aperfeiçoamento do “sistema” se o comportamento de grande parte dos eleitores se dá dessa maneira, e que os mesmos tem tanta “culpa”, senão mais, pela situação de descrédito quanto àqueles que criticam. 

Além de não participarem, é comum também ouvir dos eleitores que “eu não voto em partidos políticos, eu voto é no candidato que eu acredito”. Daí esse mesmo eleitor vota e sofre mais uma desilusão, pois acaba, o candidato agora eleito, por não fazer nada do que se espera. Contudo, esperar o que dele, já que não sabia o que de fato defendida, seus reais valores e projetos para a sociedade.

Surge, em último caso, mais uma esperança, qual seja, de que a imprensa vai resolver os problemas, ou seja, que sendo ela imparcial vai fazer “pressão” sobre os políticos e fazê-los andarem na linha, fazendo coisas boas. Mas é por meio dessa mesma imprensa que ele volta a se decepcionar quando “estoura” mais uma denúncia ou um caso de corrupção. 

Não há receita de bolo sobre o que fazer para melhorar, mas uma coisa é certa, sem a real participação política, sem um eleitor mais qualificado e engajado - que discuta política, que seja simpatizante ou filiado em partido político, que participe de um movimento social, que seja um ativista, etc. -, tudo fica bem mais complicado em se tratando de perspectivas de melhoras. 

Muitos analistas dizem que somos uma jovem democracia, que estamos aprendendo e que vamos chegar lá. Que assim o seja, mas não podemos desconsiderar que ela, além de jovem, é também muito frágil e pode ficar ainda pior. Cuidemos bem dela para que siga em frente e que efetivos espaços de participação deem oportunidade de aprendizado, pois é necessário que os cidadãos aprendam a participar, conviver e a respeitar a pluralidade de opiniões. 

Nesse sentido, termino com uma pergunta: você se sente à vontade de manifestar, no seu local de trabalho, as suas preferências políticas sem ter medo de retaliação? Caso a resposta seja negativa, eis uma das provas de que ainda estamos longe de vivenciar a prática da participação e a democracia.

 

Robson Becker Loeck é mestre em ciências sociais, especialista em política e cientista social.

Foto: Pixabay